ATA DA
TRIGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO ORDINÁRIA DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA
NONA LEGISLATURA, EM 05.05.1987.
Aos cinco dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Terceira Sessão Ordinária da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura. Às quatorze horas e quinze munutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Trigésima Segunda Sessão Ordinária, que foi aprovada. À MESA foi encaminhado, pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, 01 Pedido de Providências, solicitando colocação de iluminação pública e restauração da já existente na Av. Manoel Elias, em todo o seu percurso, da Av. Protásio Alves até a Av. Baltazar de Oliveira Garcia. Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs 249; 238; 237; 239; 247/87, do Sr. Prefeito Municipal. A seguir, em face de Requerimento do Ver. Artur Zanella, aprovado na Sessão Ordinária de ontem, solicitando Licença para Tratamento de Saúde no período de cinco a nove do corrente mês, o Sr. Presidente declarou empossado na Vereança o Suplente Wilson Santos e, informando que S.Exa. já prestara compromisso legal nesta Legislatura, ficando dispensado de fazê-lo, comunicou-lhe que passaria a integrar a Comissão de Economia e Defesa do Consumidor. Em COMUNICAÇÕES, a Ver.ª Gladis Mantelli discorreu sobre o grande número de deficientes físicos no País, enfatizando que a grande maioria destes é proveniente de acidentes de trabalho. Criticou a desativação, pelo INPS, de um instituto de reabilitação de deficientes físicos em nossa Capital, salientando a importância de que os governos federal, estaduais e municipais busquem soluções que amenizem o problema deste grupo da população. O Ver. Flávio Coulon teceu comentários sobre sua ideologia política e a atuação que pretende seguir ao longo deste ano. Dentro da política nacional, disse ser a favor das eleições diretas para a Presidência da República, visto não concordar com a forma como vem sendo conduzido o Brasil. No plano estadual, declarou seu apoio ao Governo do Sr. Pedro Simon, destacando que prestigiará as iniciativas que tomar S.Exa. O Ver. Pedro Ruas comentou a atuação política do Governador Pedro Simon, dizendo que S.Exa. possui uma profícua folha de serviços prestados ao Rio Grande do Sul e que não lhe cabe a culpa pelo caos administrativo em que se encontra nosso Estado neste momento. Teceu críticas à indefinição política do Governador Pedro Simon, cobrando-lhe os créditos solicitados junto ao Governo Federal para atender os compromissos do Estado e o cumprimento das leis que beneficiam o magistério e o funcionalismo público estadual. A seguir, foi aprovado Requerimento do Ver. Caio Lustosa, solicitando Licença para Tratar de Interesses Particulares no período de cinco a oito do corrente mês. Em continuidade, o Sr. Presidente declarou empossado na Vereança o Suplente Marcinho Medeiros e, informando que S.Exa. já prestara compromisso legal nesta Legislatura, ficando dispensado de fazê-lo, comunicou-lhe que passaria a integrar a Comissão de Justiça e Redação. Ainda em COMUNICAÇÕES, o Ver. Rafael Santos teceu comentários acerca da política centralizadora dos governos dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, os quais pretendem privilegiar uma região em detrimento do resto da Nação. Enfatizou a necessidade de que os demais governos se unam e permaneçam atentos para evitar a repetição de episódios negativos observados na época em que vigorou no Brasil a chamada política “café com leite”. A Ver.ª Bernadete Vidal criticou a desativação do centro de reabilitação de deficientes físicos em nossa Cidade, pelo INPS, lamentando o pouco que é feito por esta categoria no Estado e dizendo estar encaminhando à Assembléia Nacional Constituinte uma Moção de Protesto contra a desativação desse centro de reabilitação e contra o fato de não estar sendo ouvida, nos trabalhos de elaboração da nova Constituição, a Federação Brasileira de Entidades de Cegos. O Ver. Wilson Santos discorreu sobre a formação da Mesa diretora dos trabalhos da Casa, dizendo que o Regimento Interno não apresenta critérios sobre a participação dos partidos políticos na sua composição. Declarou-se contrário ao acordo hoje existente, que garante a direção dos trabalhos desta Câmara, alternadamente, ao PMDB e PDT. Propôs uma emenda ao Regimento Interno que garanta que a ocupação dos cargos da Mesa seja feita por partidos distintos, analisando o assunto. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Antonio Hohlfeldt comentou o fato de que até hoje o Atelier Livre de Porto Alegre ainda não conste no organograma da Prefeitura Municipal. Denunciou a imposição, pela titular da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, de uma Diretora e a intervenção feita nas eleições para a diretoria daquele Atelier, o que vai contra os estatutos da entidade, declarando que encaminhará, para votação por esta Câmara, um Requerimento solicitando a convocação da Professora Neuza Canabarro para que S.Sa. preste esclarecimentos sobre o assunto. O Ver. Clóvis Brum lamentou as críticas que vêm sendo feitas pelo PFL contra o Governador do Rio Grande do Sul, destacando que o déficit financeiro encontrado no Estado foi deixado por um Governo daquele Partido e discorrendo acerca dos problemas hoje enfrentados pelo Sr. Pedro Simon em seu trabalho à frente do Estado, em especial as greves do magistério e do funcionalismo público estadual. E o Ver. Frederico Barbosa comentou o pronunciamento, de hoje, do Ver. Clóvis Brum, acerca das críticas do PFL contra o Governo Estadual. Criticou posicionamento assumido pelo Secretário de Educação do Estado, que sugeriu a interrupção do ano escolar por sessenta dias. Às quinze horas e cinqüenta minutos, nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente levantou os trabalhos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene, a seguir, destinada a homenagear a Comunidade Judaica de Porto Alegre e convocando-os para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Teresinha Chaise, Gladis Mantelli e Frederico Barbosa e secretariados pelos Vereadores Gladis Mantelli, Frederico Barbosa, Jaques Machado e Raul Casa, o último como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Frederico
Barbosa):
Passa-se ao período de
COMUNICAÇÕES
Primeiro
orador inscrito, Ver. Flávio Coulon, cede seu tempo à Vera. Gladis Mantelli.
V.Exa. tem 10 minutos.
A SRA. GLADIS MANTELLI: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. O assunto que me traz a esta tribuna é um assunto que, de modo
geral, não costumamos nos deter muito sobre o mesmo.
O Sr. Isaac Ainhorn: A Nova República se presta
para isso.
A SRA. GLADIS MANTELLI: Talvez sim, nobre Vereador,
só que eu não pretendo falar sobre a Nova República, nem nos problemas externos
e internos que atravessa nesse momento a Nova República, com uma possível ou
não mudança de Ministério, ou um possível ou não ajuste entre se se mantém ou
não se mantém o Presidente da República, se se discutem ou não se discutem
eleições diretas ou não. Não é esse o assunto que me traz a essa tribuna, nobre
Vereador, até porque eu acredito que os problemas nacionais devam ser tratados
por esta Casa, mas não de forma tão intensa como o fazemos, já que temos outros
problemas muito mais afetos a Porto Alegre e que, por enquanto, nós deveríamos
nos preocupar mais com eles. Eu começo a falar do assunto do ponto de vista
mais amplo e pretendo torná-lo mais próximo do que é, especificamente, a
questão de Porto Alegre.
O Sr. Adão Eliseu: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento da oradora.) Vera. Gladis Mantelli, só para colaborar, saiba V.Exa.
que, apesar de não ser muito adequada a discussão de assuntos nacionais na
Câmara Municipal - os debates da República, a implantação da República no nosso
País -, começaram os debates a serem discutidos nas Câmaras Municipais.
A SRA. GLADIS MANTELLI: Eu concordo com V.Exa. Eu
sei que a Câmara Municipal é a célula-mater do processo político. É evidente
que nós não podemos nos omitir nunca de discutir também os problemas nacionais.
Eu só estou dizendo que a ênfase desta Casa não deveriam ser os problemas nacionais.
Não que não deva discuti-los, sob hipótese nenhuma, acho que não. Devemos
discuti-los, mas em determinados dias só se faz isso, só se discutem os
problemas nacionais, quando nós temos, também, uma série de problemas na nossa
Cidade que deveríamos, já que para isso fomos eleitos, tentar discutir.
Mas agora, tentando entrar no assunto que me propus a discutir em
tribuna: tem-se falado muito no problema que enfrenta o deficiente físico em
nosso País. No entanto, muito pouco tem sido feito através das autoridades
governamentais no sentido de melhorar suas condições de vida. No Brasil, hoje,
o número de deficientes chega a 13 milhões, sou seja, 10% da população
brasileira. É um número alarmante se temos 10% da população brasileira de
deficientes físicos. Temos um contingente populacional equivalente a 10% da
população que tem alguma forma de deficiência física. Grande número dessas
pessoas é incapacitado por acidentes de trabalho ou acidentes de trânsito e,
via de regra, não mais se consegue integrar na força de trabalho devido à
inexistência de uma política definida para essa área. Não é comum no Brasil e
em Porto Alegre, em particular, haver uma preocupação de que se tenha uma
política no sentido de que se coloquem essas pessoas acidentadas e portadoras
de deficiência física, quer por acidente de trabalho, de trânsito ou congênita,
dentro de uma estrutura positiva, a não ser nas associações de deficientes que
lutam para ganhar melhor espaço para seus integrantes. Encontramos, ainda,
esforços isolados que, muitas vezes, enfrentam uma série de entraves e pouco
conseguem devido à insensibilidade dos órgãos públicos. Há poucos dias, os
órgãos de imprensa publicaram uma reportagem sobre a desativação do Centro de
Reabilitação Profissional em parte mantido pelo INAMPS, órgão vinculado ao
Governo Federal. Na verdade, muitas salas estão sendo desativadas, o que está
gerando descontentamento entre seus usuários, deficientes físicos que, dessa
forma, vêem frustradas suas esperanças de voltarem a trabalhar, reintegrando-se
à sociedade. Consideramos essa atitude uma decisão lamentável que o INPS adota.
O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento da oradora.) O que V.Exa. transmite a esta Casa na tarde de hoje
é simplesmente de estarrecer a nós que ainda vivemos preocupados com este
assunto, e, inclusive, acreditamos até que, se fosse feita uma divulgação sobre
os acidentes de trabalho, acidentes de trânsito, talvez até os institutos de
reabilitação não fossem necessários, mas são necessários, principalmente, pela
inoperância do INPS, pela inoperância dos governos com relação a este tipo de
prevenção. E agora, mais ainda, nos pega de surpresa esta informação de V.Exa.,
e, se não bastasse, ainda vultosas somas estão sendo liberadas para o combate à
AIDS, quando, realmente, a prevenção de acidentes do trabalho nos deixa
milhares e milhares de mais vítimas do que se tem notícia da AIDS, em termos de
projeção geométrica. Mas é realmente de se preocupar, nobre Vereadora, porque
principalmente os acidentados de trabalho têm, no trabalho, meio de vida, mas
encontram a morte. É incrível, mas é verdade.
A SRA. GLADIS MANTELLI: Agradeço o aparte, nobre
Vereador. O problema é que não encontram só a morte. Encontram, também, as suas
incapacitações, tornando-os improdutivos ou incapazes de se reabilitarem de uma
outra maneira para continuarem sendo produtivos. Inclusive, fiz um contato com
o INPS a respeito desta desativação do Centro, que é considerado o mais
completo da América Latina, o Centro do Rio Grande do Sul, e que desempenhava
um papel relevante no tratamento dos deficientes físicos. E amanhã pela manhã
terei uma visite a este Centro e uma tentativa de encontrar justificativas
razoáveis do porquê da desativação ou não, porque essas informações, às vezes,
são deturpadas, e nós sabemos, mas nós também temos que procurar as
justificativas do órgão de por que isso acontece ou se processa, porque, na
realidade, não podemos aceitar esta desativação, eis que ela vai prejudicar
algo tão importante que já havia sido conquistado. No sentido de esclarecer
esta nossa intenção é que iremos, amanhã, conversar com a Superintendência do
INPS, buscar informações e nos permitir saber por que é que esse assunto não
tem sido debatido tanto pelo Governo, como pela sociedade, porque ambos são
interessados nisso. E sabemos que não é necessária uma quantia tão vultosa para
dar continuidade a esse tipo de projeto. É necessário mais do que isso: é
necessário sensibilidade, é despertar a consciência das pessoas. No momento em
que estamos elaborando uma nova Constituição em nosso País, é imprescindível
que se dê maior atenção à situação dos deficientes físicos, garantindo-lhes o
direito à educação, saúde, trabalho e locomoção, pois essa é, geralmente, uma
grande dificuldade que eles encontram. Sabemos que os órgãos públicos deveriam
ser dotados de rampas para deficientes físicos, que as calçadas da cidade
deveriam ter acessos a deficientes físicos, que os telefones públicos deveriam
ser a uma altura que os deficientes físicos pudessem utilizá-los. Essas
legislações existem e estão em vigor em outras cidades deste País, mas em Porto
Alegre, infelizmente, não estão. E o nosso papel, como Vereadores, é fazer as
leis que não existem, e, se existem, exigir o seu cumprimento. É um papel nosso
nos preocuparmos com um assunto como esse, que é a questão dos deficientes. Nós
temos uma quantidade enorme de deficientes físicos em Porto Alegre sem escola,
porque as escolas não os aceitam e não estão adaptadas para aceitá-los, e essas
questões que se colocam, no meu ponto de vista, são extremamente relevantes. É
um trabalho que compete à Casa realizar, quer apresentando projetos para que
torne isso viável, quer fazendo cumprir leis já existentes nesse sentido. Muito
obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
A SRA. PRESIDENTE (Gladis
Mantelli):
Com a palavra, o Ver. Flávio Coulon pelo tempo que lhe cede o Ver. Clóvis Brum.
O SR. FLÁVIO COULON: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores. Nesta oportunidade em que estou assumindo, agora em caráter mais
permanente, e sendo este o meu primeiro pronunciamento nessas circunstâncias,
no tempo de Comunicações, é necessário que se faça, Sra. Presidente e Srs.
Vereadores, um posicionamento a respeito da atuação que este Vereador pretende
seguir ao longo desse ano e das idéias que ele tem a respeito do panorama
político nacional, estadual e municipal.
Em primeiro lugar, em termos de política nacional, gostaria de dizer
que já me filio entre aqueles que defendem as eleições diretas no ano de 1988
por considerar que o Governo de José Sarney perdeu toda a sustentação popular e
política que tinha, toda a sustentação popular e política que lhe outorgou o
Plano Cruzado, plano este que, por incompetência e por eleitoreirismo, ele
deixou que fosse por água abaixo. De modo que é preciso... E me filio àquela
corrente que irá lutar por eleições diretas em 1988 no sentido de que emerja
dessas eleições diretas um governo que tenha um verdadeiro respaldo popular,
que tenha o respaldo das urnas, ao contrário do que ocorre agora com este
Governo, ao qual, por não ter o respaldo de voto, falta o respaldo político e o
respaldo popular.
O Sr. Isaac Ainhorn: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Eu quero me congratular com V.Exa. pelo seu
posicionamento assumido da tribuna da Casa, como Vereador que é do Partido do
Movimento Democrático Brasileiro, em prol deste movimento que começa a ganhar e
sensibilizar os mais amplos setores da sociedade brasileira, que é o das
eleições diretas. Acredito, sinceramente, nobre Vereador, que a prioridade número
um, neste ano, seria a elaboração da nova Carta, com eleições gerais no ano de
1988, a ser estabelecida pelos constituintes, pela fragilidade, hoje, do
Governo da República Brasileira, que não tem a legitimidade necessária e o
respaldo popular para fazer frente aos graves problemas por que passa a Nação.
Sou grato a V.Exa. e mais uma vez me congratulo pela independência de
V.Exa. no seu mandato e numa posição realmente de vanguarda dentro do partido a
que V.Exa. está filiado.
O SR. FLÁVIO COULON: Agradeço a V.Exa. pelo
aparte. Quero dizer que prefiro ficar ao lado daquele PMDB branco, que defende
as eleições diretas em 1988, a ficar do lado deste PMDB negro de Orestes
Quércia, de Moreira Franco, de Newton Cardoso, que se arrastam perante o Poder
e pretendem ficar neste Governo o maior tempo possível.
O Sr. Jorge Goularte: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Nobre Vereador, eu não me surpreendo com o
posicionamento de V.Exa., que já o conheço a longo tempo e sabia que a sua
vinda para esta Casa, Vereador, iria enriquecê-la, especialmente pela
independência que V.Exa. tem em todos os posicionamentos que tem assumido nesta
Casa, dos quais participamos juntos. Parece-me que neste aspecto V.Exa. tem
razão, porque eu me vejo, Ver. Flávio Coulon, naquele palanque frente à
Prefeitura, junto com Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, tantos outros
políticos, defendendo as eleições diretas para Presidente da República, em
todos os níveis, e eu permaneço defendendo agora. Quanta gente já desistiu, Ver.
Flávio Coulon! Sei que V.Exa. permanece com o mesmo pensamento. Por isso,
dou-lhe os meus cumprimentos e repito: a vinda de V.Exa. para esta Casa
enriquece-a.
O Sr. Isaac Ainhorn: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Eu só agregaria, Ver. Flávio Coulon, se V.Exa.
permite, que ao lado de Quércia, de Moreira Franco, pelas declarações de hoje
eu vejo que, ao lado destes Governadores, se encontra também S.Exa. o
Governador do Estado do Rio Grande do Sul, que pediu um mandato de cinco anos para
o Sr. José Sarney, e o Sr. Paulo de Souza Pinto, que pediu, como direito
adquirido, já conquistado pelo Presidente José Sarney, um mandato de seis anos,
nos termos da Emenda Constitucional nº 01.
O SR. FLÁVIO COULON: Agradeço o aparte. Já vou
lhe dar a explicação.
Falando agora no plano estadual, prestigiarei todas as iniciativas do Governador Pedro Simon. Serei um fiel defensor do Governo do PMDB no Estado do Rio Grande do Sul, quanto mais não seja porque, além de considerar o Governador Pedro Simon uma pessoa com toda a capacidade para fazer um belo governo nestes quatro anos, tem para assessorá-lo a figura do magistrado Secretário Especial Flávio Koff e, na Procuradoria Geral, a figura impoluta do Dr. Manoel André da Rocha, meus particulares amigos e que honram qualquer governo a que pertençam.
Mas lhe digo e lhe dou explicação. O Governador Pedro Simon está em Brasília, tentando arrumar dinheiro, tentando rolar a dívida do Rio Grande do Sul, e bem conhece ele e estofo do Sr. José Sarney para saber que qualquer declaração em torno de um mandato de quatro anos iria prejudicar violentamente o Rio Grande do Sul. Então, neste momento, a posição do Governador Pedro Simon me parece absolutamente correta. O tempo irá dizer se ele vai manter essa posição.
O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) A participação de V.Exa. na tribuna, trazendo um
assunto tão importante, me faz lembrar uma historinha, quando do episódio das
diretas. Nós, este Vereador, representando o PDS na ocasião, participamos da
marcha de Capão da Canoa, e eu liderei, em nome do PDS, e estive na organização
daquele evento. Alguns puxões de orelha recebi, mas sempre representando a
minha condição pessoal e não o meu partido e tentando trazer outros. O Ver.
Jorge Goularte estava comigo. Me lembro sempre que o Deputado Facioni dizia:
“Aranha, não faz isso, volta atrás, o nosso Presidente é muito claro, ele é
contra as diretas”. Eu perguntei a ele: “mas que presidente?”. Pensava que
estava se referindo a Figueiredo. Ele respondeu: “Não, é o Sarney”.
Então, Vereador, isso me faz lembrar que, tempos atrás, isso já
acontecia.
O SR. FLÁVIO COULON: O pessoal do PFL sabe todas
as piadas. Finalmente, Sra. Presidente, gostaria de firmar minha posição com
relação à Prefeitura de Porto Alegre. Quero deixar bem claro que farei uma
oposição ao Governo do Prefeito Alceu Collares, mas uma oposição consciente e
responsável, sabendo reconhecer as virtudes e as dificuldades que ele enfrenta
e procurando, com a maior das boas vontades, trazer a ele a nossa colaboração
de partido de oposição. E para provar isso, Sra. Presidente, como não vi nenhum
dos membros do PDT falar sobre o assunto, queria cumprimentar o Governo do
Prefeito Alceu Collares, em especial seu Procurador, Dr. Mathias Nagelstein,
pela bela vitória, independente de entrar no mérito da questão, bela vitória
que eles tiveram no Supremo Tribunal Federal a respeito da liminar que suspende
a eficácia dos artigos 178 e 182 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça,
na qual o Tribunal se baseia para examinar a constitucionalidade das Leis...
O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Não sou letrado em matéria jurídica, mas isso não é a
palavra final.
O SR. FLÁVIO COULON: Não, o mérito ainda não foi
julgado. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Pedro
Ruas.
O SR. PEDRO RUAS: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores, talvez a maior distinção que se possa fazer a qualquer governo é a
lembrança de que o mesmo foi eleito pelo povo e representa a vontade
majoritária de uma população em determinado momento acerca daquela forma de
governo, ou daquelas pessoas que, no entendimento popular, melhor representam
as possibilidades de mudanças e de um governo justo. Por isto faço a introdução
deste pronunciamento referindo que, por todas as formas, existe dignidade,
existe justiça, existe, acima de tudo, a vontade popular no fato de termos hoje
o Senador Pedro Simon como Governador deste Estado na medida em que foi eleito
pelo povo, majoritariamente, e sabemos que representou um sentimento de
mudanças para o Estado do Rio Grande do Sul. Mais ainda, o Governador Pedro
Simon tem uma longa folha de serviços prestados a este Estado, serviços
prestados à Nação, e recebeu, ao longo de sua vida pública, o reconhecimento
desta atividade, que foi profícua e que não é contestada por ninguém. Fica esse
esclarecimento indispensável. Algumas verdades precisam ser colocadas de
imediato na medida em que a legitimidade de estar no Governo, segundo foi
colocado várias vezes pelos integrantes desta Casa, inclusive em relação ao
Governo Municipal de Porto Alegre, não é tudo para ser governo. Várias vezes
ouvi isso em relação ao Governo do PDT, seja em Porto Alegre, seja no Estado do
Rio de Janeiro, seja na cidade do Rio de Janeiro, e refiro, hoje, esse episódio
em relação ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Nós temos vivido, Srs.
Vereadores, dias difíceis para este Estado, dias muito difíceis. E jamais se
cometeria a injustiça de dizer que a situação de caos absoluto em que vive este
Estado hoje é culpa do Governo que aí está e que ainda não completou dois meses
de mandato. Ocorre, porém, que a indecisão e as indefinições deste Governo,
seja quanto ao aspecto político, seja quanto as aspecto econômico, têm levado
os gaúchos a uma situação tal de perplexidade e de medo do que está por vir. Há
necessidade de se fazer, desde logo, todos os representantes populares, todas
as pessoas que têm mandato popular, um alerta ao Sr. Governador, Pedro Simon de
que é hora de definição. O Sr. Governador, numa tentativa certamente
infrutífera de ficar bem com todo mundo, acaba não ficando bem com ninguém. Se
de um lado argumenta que não prejudica a população para colocar verbas à
disposição do funcionalismo em geral, de outro lado cria problemas para essa
mesma população na medida em que esse funcionalismo está, quase na sua
totalidade, paralisado. A greve que está ocorrendo do funcionalismo do
Judiciário é inédita na história do Estado do Rio Grande do Sul. Jamais parou o
funcionalismo do Judiciário neste Estado. E mais: esta paralisação é justamente
para buscar o cumprimento da lei. Não é uma paralisação como outras que
ocorreram, buscando uma conquista de uma determinada categoria. É uma
paralisação buscando o cumprimento da lei. A paralisação dos professores do
Estado visa, única e exclusivamente ao cumprimento da lei. As Leis 8020 e 8026
são conquistas do funcionalismo, conquistas através de movimentos de
paralisação, nos quais muitos dos atuais integrantes do Governo do Estado foram
porta-vozes, e hoje essas mesmas pessoas, investidas no cargo de governantes do
Estado, negam aquelas conquistas e fazem propostas de modificação de cada lei
que eles mesmos ajudaram a conquistar. É uma situação que deixa todos os gaúchos
perplexos e com medo do futuro, porque a indefinição, a indecisão do Governo
Estadual chega, neste momento, às raias do absurdo. O Sr. Pedro Simon elegeu-se
muito em função do que ele mesmo pregava na campanha, de suas boas relações com
o Governo Federal, do seu livre trânsito na área federal e o seu acesso aos
prédios do Poder de Brasília. Mas estes mesmos prédios dos Poderes de Brasília
lhe fecham as portas hoje. O Sr. Pedro Simon tem encontros com os Ministros,
tem encontro com o Presidente da República e volta sempre de mãos vazias. Eu li
uma definição ontem, de um Deputado Estadual do PMDB, dizendo que esta situação
deveria perdurar por mais algum tempo até que o Governo Federal se
sensibilizasse e auxiliasse o Governo Estadual, mas o que está me parecendo é
que jamais haverá esta sensibilidade do Governo Federal. E, se é com esta
sensibilidade que o Governador Pedro Simon esperava contar quando concorreu,
ele enganou a todos nós. Nós não temos que ter sensibilidade. Nós temos que ter
respeito e compromissos. No dia de ontem, no jornal de hoje, a Ordem dos
Advogados do Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul, colocou expressamente a
única situação, a única posição coerente e até óbvia que se pode ter, como,
aliás, havia colocado, há alguns dias atrás, na televisão, o Ver. Paulo
Sant'Ana. O Sr. Pedro Simon tem que ir a Brasília e buscar os recursos
necessários para regularizar a situação do Estado do Rio Grande do Sul. É
inaceitável que se continue sob o argumento de que não há recursos, com o Estado
parado, com a população sofrendo esta paralisação simplesmente porque não se
cumpre a lei que representa uma conquista do funcionalismo e que hoje não é
cumprida sob o argumento de que não há recursos, quando, nos discursos
transcritos daqueles senhores que eram Deputados Estaduais, referiam que,
quando da conquista daquelas leis, o argumento de que o Estado não tinha
recursos era um argumento falso, era um argumento mentiroso e que visava a
enganar o povo.
A Sra. Bernadete Vidal: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Um órgão como a Fundação de Atendimento ao
Excepcional, que é um órgão importante, que atende deficientes, encontra-se
completamente parado, e não é pela greve. É que a Secretaria de Educação ainda
não definiu quem vai para lá e quando vai. Os deficientes estão todos esperando
por um atendimento mais efetivo. A par disso, no SINE, Sistema Nacional de
Emprego, três Diretores numa sala só, num órgão só. Um para controlar o outro,
com ordenado bem maior do que pagavam antes.
O Sr. Kenny Braga: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Eu acreditava que a eleição através de um voto livre,
secreto e universal daria ao Governo do Rio Grande do Sul uma posição de
verticalidade perante o Governo Federal. No entanto, isto não está acontecendo.
Tivemos, recentemente, o episódio da escolha da nomeação do substituto do Sr.
Luís Octávio Vieira na Presidência do Banco Meridional, para o qual sequer o
Sr. Pedro Simon foi consultado. Ele foi comunicado depois que a escolha havia
sido feita. Me surpreende que nenhum Vereador desta Casa, do PMDB, tenha saído
em defesa do Sr. Luís Octávio Vieira, que foi miseravelmente degolado pelo
Governo Federal com a conivência do Ministro da Justiça, que não deve se
intrometer nesse tipo de assunto. O Sr. Paulo Brossard preferiu manter no
Meridional pessoas que estavam vinculadas à situação calamitosa anterior e
degolar o Sr. Luís Octávio Vieira, que estava fazendo alguma coisa em benefício
do Banco. E, surpreendentemente, ninguém desta Casa saiu em defesa do Sr. Luís
Octávio Vieira.
O SR. PEDRO RUAS: Lembraria ainda as matérias
publicadas nos jornais de hoje e de ontem sobre a cidade de Fortaleza e os
problemas que tem enfrentado durante a Administração da Sra. Maria Luíza
Fontenelle, eleita pelo PT para Prefeita daquela Capital. Eu diria que a cidade
de Fortaleza, hoje, é considerada uma cidade acabada, destruída pela
Administração do PT. A imprensa toda refere isso e, no dia de hoje, a Sra.
Prefeita daquela Capital refere que vai demitir metade dos funcionários
públicos e contratar empréstimos de aproximadamente dois bilhões de cruzados
para tentar viabilizar o Governo de Fortaleza durante este ano. A Administração
de Fortaleza, sob a égide do PT, está um caos absoluto. Faço esta referência
para dizer a V.Exas. que um governo, mesmo eleito pelo povo e tendo
legitimidade, enfrenta dificuldades. E quando fossem referidas quaisquer
críticas ao Governo do PDT nesta Casa, eu gostaria de que fosse lembrado esse
exemplo. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Rafael Santos, pelo tempo que lhe cede o Ver. Cláudio Dubina.
O SR. RAFAEL SANTOS: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores, nós estamos assistindo, no âmbito nacional, a um fato que me parece
extremamente preocupante. Vou-me valar da História para relembrar as origens
que levaram o Brasil à Revolução de 30. Começou exatamente em 1906, quando se
estabeleceu na Nação a chamada política café-com-leite e a política dos
governadores. Foi exatamente uma união entre São Paulo e Minas que proporcionou
presidentes como Wenceslau Brás, Artur Bernardes e Washington Luiz, e somente
na sucessão deste último, quando o mesmo não concordou em dar continuidade à
política café-com-leite, é que foi possível a união do Rio Grande do Sul com
Minas e, por conseqüência, a Revolução de 30. Sabemos o quanto foi desastrosa à
Nação esta política, que proporcionou o desenvolvimento do eixo São
Paulo-Minas, em detrimento do resto do País. As ilhas de miséria que temos no
Norte e Nordeste brasileiros e hoje as dificuldades que passamos no Sul ainda
são frutos dessa política de governadores, especialmente a política
café-com-leite, e vejo agora, com muita preocupação, os permanentes contactos e
permanentes encontros entre os Governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro. Parece que agora querem estabelecer a política café-com-leite e
carnaval. E quanto isso pode ser prejudicial para o resto do Brasil e de modo
especial para o Rio Grande do Sul! Vejam o que se trama nos bastidores da nossa
República: esse acordo com as Repúblicas do Prata, especialmente esse acordo
comercial com a Argentina, interessa especialmente a quem? Exatamente a São
Paulo e Minas, que querem explorar seus produtos industrializados, a começar
pelos automóveis, que querem exportar todo um saldo industrializado, pois
sabidamente a Argentina está com sua indústria defasada no tempo, e em troca
vai importar o quê? O que a Argentina tenta nos oferecer? Exatamente o que
temos aqui, no Rio Grande do Sul: a maçã, que hoje se procura, no Rio Grande do
Sul e em Santa Catarina, criar uma agricultura própria com excelente qualidade
de maçãs. Com exceção do trigo, tudo o que a Argentina tem para nos oferecer, a
partir da carne, vinhos e maçãs, são produtos produzidos no Sul do País, em
troca da produção industrial de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. É
preciso que a Nação se atente para política que está se desenvolvendo nesse
sentido. Vemos e observamos já, na própria reforma ministerial, a preocupação
de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro em colocar seus pró-homens nos
pontos-chave da indústria, comércio, fazenda e planejamento. Não se trata, nem
ao menos, de partidos políticos; não se trata, nem ao menos, de nomes
vinculados a esse ou àquele partido. O que se observa é a união e a preocupação
dos Governos de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro de tomarem conta literalmente
do Governo Federal e, a partir daí, estabelecer uma política que seja adequada
e própria para esses Estados em detrimento do restante do Brasil.
O Sr. Flávio Coulon: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Nobre Vereador, congratulo-me com o pronunciamento de
V.Exa. Eu diria mais: não são pessoas indicadas para fazer não política para os
seus Estados, mas políticas pessoais para esses Governadores, política
clientelista. O Sr. Orestes Quércia não está interessado em fazer um Ministro
da Fazenda que seja bom para o Estado dele, mas que seja bom para a sua futura
campanha, um cargo eletivo. O Sr. Nilton Cardoso a mesma coisa, o Sr. Moreira Franco
a mesma coisa. É lamentável que os interesses pessoais sejam colocados acima
dos interesses públicos por esses Governadores desses Estados café-com-leite de
que V.Exa. tão bem fala.
O SR. RAFAEL SANTOS: Eu agradeço o aparte de
V.Exa. e acho que está na hora de os demais governadores brasileiros, de os
prefeitos das capitais de todo o Brasil se darem conta do que está sendo
armado, sendo tramado neste País: um plano de privilegiar uma região e que já é
a região mais desenvolvida do Brasil, que já é a região privilegiada sob todos
os aspectos em detrimento do resto da Nação. Nós vimos o triste espetáculo que
foi a escolha do Sr. Governador do Ceará, Tasso Jereissati, para Ministro da
Fazenda, que foi triturado, - no termo preciso é esse -, foi triturado pelos
interesses de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. Acho que, se os demais
Governadores dos Estados e os Prefeitos de capitais que são responsáveis por
parcelas significativas da população brasileira, não se unirem, nós teremos,
muito em breve, no complemento dessa reforma ministerial, o domínio, o
predomínio e o domínio absoluto desses três Estados. E, certamente, não farão
política à Nação. Farão política em benefício próprio e em benefício dos seus
Estados, e isto terá resultados catastróficos como em 1922 e 1930. É como
dizem: a História se repete.
O Sr. Kenny Braga: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) No caso do veto do Governador do Ceará, é necessário
que se lembre da participação ostensiva do Sr. Ulysses Guimarães. Ele foi ao
Presidente Sarney e manifestou a sua contrariedade. Ele ocupa todos os espaços.
Não é presidente do Internacional porque não foi convidado para ser, senão
seria. Então, o veto partiu diretamente do Sr. Ulysses Guimarães, que vetou
abertamente o Sr. Tasso Jereissati.
O SR. RAFAEL SANTOS: É mais um fato preocupante,
porque, sabidamente, a Imprensa está registrando no seu dia-a-dia. No início
das articulações em São Paulo, Minas e Rio, o Sr. Ulysses Guimarães era
contrário. No momento em que ele sentiu que perderia o comando e que estava
extremamente forte esse conluio “café-com-leite e carnaval”, começou a aderir,
a ponto de que o Sr. Ulysses Guimarães, de uma hora para outra, que sabidamente
era favorável à eleição para a Presidência da República, já disse que não
queria mais. Estamos vendo que, a cada dia que passa, mais se fortalece o eixo
Rio, São Paulo e Minas. Se o resto do Brasil não tomar uma atitude, nós, muito
em greve, estaremos vendo a reedição clara e precisa da política do
café-com-leite. E vamos ver coisas como a criação do Pólo Petroquímico no Rio
de Janeiro contra o desenvolvimento do nosso Pólo Petroquímico aqui, no Rio
Grande do Sul. Coisas dessa natureza vão ocorrer se não houver uma reação do
restante do Brasil contra essa política esdrúxula de três governadores que
querem ser donos dessa Pátria. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Frederico
Barbosa):
Com a palavra, a Vera. Bernadete Vidal. V.Exa. tem 10 minutos.
A SRA. BERNADETE VIDAL: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Entra República, sai República, se dá eleição e parece que para os
deficientes as coisas mudam para pior, quando mudam, porque, a não ser raras
exceções - a Vera. Bernadete Vidal, que teve uma ótima votação em Porto Alegre;
alguns professores, que agora estão em greve porque estão sendo malpagos porque
o Governador não quer cumprir a lei; algumas outras pessoas trabalhando como
telefonistas, massagistas -, os deficientes são esquecidos e, quando lembram
deles, é para retirar-lhes alguma coisa que já possuíam.
Foi construída, em Porto Alegre, uma área que até chamávamos de
“elefante branco”, que é o Centro de Reabilitação do INPS, lá na Bento
Gonçalves, que foi feita adaptada para deficientes, com rampas, elevadores com
partas da largura que permita a passagem de cadeiras de rodas. Tudo funciona,
menos o pessoal adequado para o trabalho de reabilitação. Isso não aconteceu.
Pois agora, Srs. Vereadores, os deficientes estão perdendo este espaço também.
Eu confesso a V.Exas. que não sei no que vai ser transformado aquele espaço que
era utilizado pelos deficientes. Eu já havia denunciado que as canchas que lá
existiam, ao invés de servir aos deficientes para os mesmos treinarem, foram
alugadas às empresas das adjacências para os seus funcionários praticarem, ali,
o seu lazer. Agora está solenemente instinto o Centro de Reabilitação do INPS.
O que vai acontecer? O trabalhador celetista, contribuinte da Previdência
Social, quando adquire uma deficiência é aposentado e mandado para casa: “vai
que agora tu és um inválido”. É esta a política que está se instalando na nossa
terra, e eu, como há muito ando na contramão, graças a Deus, nesta política
toda, quero manifestar o meu protesto, o meu desagrado contra esta medida. Sei,
inclusive, que felizmente - e acho que até é uma conquista também um pouco
minha, um pouco da luta dos deficientes - a Vera. Gladis Mantelli também trouxe
à tribuna essa mesma preocupação. É uma voz a mais que se soma para que
possamos dizer a quem quer ouvir, a quem possa ouvir, porque, infelizmente,
somos mal-ouvidos, porque quando ouço, pela manhã, uma ouvidíssima rádio local
alguma coisa sobre a Câmara sou obrigada a escutar, porque aqui a coisa está
como o diabo gosta.
A coisa está tão deprimente, Srs. Vereadores, que, quando chamam alguém
para depor na Constituinte, chamam pessoas cuja representatividade não se
conhece. Ontem eu fiquei sabendo... eu, uma das fundadoras da Federação
Brasileira de Entidades de Cegos. Não sou atualmente nem da Direção, porque
escolheram outros companheiros para esta luta, mesmo porque eu não sou Ulysses
Guimarães. E eu tive a surpresa de assistir pelo Jornal Nacional um companheiro lá de Recife, que é de uma
associação de lá, um bravo companheiro, por sinal, depondo na Constituinte,
enquanto que a Federação Brasileira de Entidades de Cegos, que é composta,
congrega, mais de 26 entidades de cegos de todo o Brasil, organizações
dirigidas por cegos, esta Federação não está sendo ouvida. Esta Federação está
sendo esquecida. Eu acho que até isto está entrando nesta política
café-com-leite que o Ver. Rafael Santos mencionava, porque talvez os dirigentes
da FEBEC estejam, na maior parte, aqui no Sul. A FEBEC não está sendo ouvida.
Estou encaminhando à Constituinte, e farei até mesmo através dos
Deputados Constituintes do meu partido, uma moção de protesto contra estas duas
medidas: uma por parte do INPS, criando pouco espaço, bem reduzido espaço, para
o deficiente em Porto Alegre, dado por esta Instituição, e a Comissão dos
negros, das minorias, que não ouve as pessoas mais representativas da luta dos
deficientes no Brasil.
É por isso, Srs. Vereadores, que estamos perdendo espaço, por não
sermos ouvidos. É certo que ainda somos poucos. Sobre a luta que temos que
enfrentar, somos muito poucos. São poucos os deficientes que querem de verdade
mudar por si próprios, que querem lutar, que querem não ser aposentados
compulsoriamente, que querem um trabalho, não um emprego. Infelizmente não
conhecemos companheiros que não tiveram um problema educacional. Uma estrutura
toda, esmagadora, nos compeliu a que fôssemos pedintes. Estrutura tão grande
que me fazia oferecer um curso de música e depois me colocava a tocar em
benefício de uma instituição onde eu estudava com bolsa de estudos. E não é
essa instituição só a culpada, é toda uma estrutura. É contra essa estrutura,
Srs. Vereadores, que lutamos. Ela é ainda muito forte, mas nós vamos seguir
lutando, sem pedir protecionismos, muitas vezes antipáticos ao próprio grupo,
ou a alguns menos conscientes no próprio grupo. Mas vamos seguir fazendo essa
política, política que vai nos incrementar em Porto Alegre, formando um
Conselho de Pessoas Portadoras de Deficiência na cidade de Porto Alegre.
O Sr. Marcinho Medeiros: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento da oradora.) Gostaria de saber de V.Exa. qual a posição dos
deficientes em relação aos surdos-mudos.
A SRA. BERNADETE VIDAL: Nobre Vereador, digo a
V.Exa. que foi um dos grupos que apoiou, inclusive, a minha candidatura, e não
só por isso, mas é um dos grupos bastante reivindicativos, que luta por idéias.
É a Sociedade dos Surdos do Rio Grande do Sul, com os quais, apesar de toda a
dificuldade de comunicação, tenho profunda e inestimável identidade de idéias.
É inclusive muito interessante eu, como cega, ter feito discursos a surdos.
Numa ocasião, discursava para uns 200 surdos com auxílio de uma senhora, esposa
de um surdo, que transmitia, falava aquela comunicação total e transmitia as
coisas que eu dizia. V.Exa. deve ter perguntado em função do filme. Pois é
excelente o nosso nível de entendimento, entre cegos e surdos.
O Sr. Marcinho Medeiros: Pois surdo é muito
discriminado na sociedade, apesar de ter muita competência para o trabalho, às
vezes mais do que os ouvintes. São discriminados por sua falta de se comunicar
quando de costas para a outra pessoa.
A SRA. BERNADETE VIDAL: Nobre Vereador, somos
discriminados para conseguir escolas, somos discriminados na sociedade, somos
discriminados na rua, porque os espaços não são oferecidos a nós com igualdade.
Vejam se há espaços oferecidos a nós com igualdade no caso do Centro de Porto
Alegre, onde nós não podemos andar tranqüilos com nossas bengalas, pois existem
muitos buracos e muitos desníveis, não há rampa. E agora, Sra. Presidente, nos
tiram mais um espaço, nos tiram, em nível de Constituinte, o espaço da Entidade
Brasileira de Cegos. É por isso que eu vou continuar lutando enquanto estiver
aqui na Câmara. Vou fazer, semanalmente, quase o mesmo discurso. Mas o que vou
fazer? Os espaços continuam se fechando para nós. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Wilson Santos por cedência de tempo do Ver. Auro Campani.
O SR. WILSON SANTOS: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, problemas da Cidade, por extensão, entendo ser também problemas de
economia interna desta Casa. E eu vou me ater à reforma do Regimento Interno,
mas antes estabelecer algumas coisas que são do conhecimento de todos os
Vereadores. O art. 169 estabelece que só pode ser alterado o Regimento Interno
por proposta da Mesa ou por 1/3 dos Vereadores, no mínimo. E esta iniciativa,
pelo art. 151, é rotulada como Projeto de Resolução na proposição que se refere
à economia interna da Casa.
Ora, eu entendo que o momento é propício para se levantar esse tema,
embora o tema possa ensejar polêmica. O capítulo 3º do Regimento Interno versa
sobre o tema da Mesa; o art. 11 estabelece que a Mesa é órgão diretivo dos
trabalhos da Câmara, compondo-se do Presidente, 1º e 2º Vice; 1º, 2º e 3º
Secretário. O art. 12, e é aqui que eu chamo a atenção dos Vereadores, diz que
a eleição da Mesa se verifica por votação secreta. Só que aqui é que eu entendo
que está o fulcro do problema. Não estabelece os critérios para participação
dos representantes do povo nesta Mesa. O povo elege 33 Vereadores, e a
composição original desta Casa se deu no ano de 1982, com a presença de apenas
quatro partidos, ou seja, o PMDB, o PDT, o PT e o PDS. Ora, por uma
conseqüência natural de a política ser dinâmica e não estática, hoje esta Casa
tem a representação, nada mais e nada menos, de oito partidos.
O Sr. Aranha Filho: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) E um independente, Vereador.
O SR. WILSON SANTOS: Embora eu respeite o
independente, continuo dizendo que nós temos oito partidos. E vejam que esta
Casa, na atual Mesa Diretora, nos honra com a presença do nosso representante,
Ver. Frederico Barbosa, com redobrada honra, aproveitando o aparte do Ver.
Aranha Filho, hoje no exercício da Presidência dos trabalhos, neste momento.
Entretanto, eu combati aquele acordo bipartidário que abria uma pequena janela
para um partido de um representante só que era o PT, porque a Casa passou a ter
os seus destinos, e a administração desta Casa tem muito a ver com o mandato
que nos é conferido pelo povo, administrada não pluripartidariamente, mas
bipartidariamente pelo PMDB, pelo PDT, abrindo uma janela num acordo. E é isso
que eu chamo a atenção da Casa. Eu não vou usar uma linguagem cáustica porque,
neste digladiar de idéias, eu tenho idéia contrária da maneira com que a Casa
vem se comportando em termos de administração da Casa. Mas eu entendo que foi o
avesso do avesso da democracia, a antidemocracia aplicada na Casa. Por que 33
Vereadores dirigidos por uma Mesa bipartidária? No acordo nós tivemos, nesta
tribuna, Vereadores que acusaram de casuísmo, de conchavos que atendiam só
interesses políticos momentâneos, e eu fazia coro no grupo de Vereadores que
usava esta terminologia. Entretanto, num amadurecimento maior, político, eu
entendia como válido, já que política é uma arte de utilizar a inteligência
para tirar aquilo que os contornos legais desta Casa permitiam, já que o
Regimento era omisso e ensejou que o uso da habilidade política permitisse que
se sucedesse no mando desta Casa o PMDB e o PDT. Entretanto, eu proponho que
passemos doravante a estudar a entrada imediata nesta Casa de um Projeto de
Resolução que tem que levar a assinatura de 1/3 do número de Vereadores,
prevendo um futuro mais estável. Que possamos fugir dos conchavos momentâneos,
que tenhamos um futuro mais estável para esta Casa! Hoje temos oito partidos.
Quem pode dizer que não teremos 10, 11 ou 12 no ano que vem, em 15 de novembro,
quando ocorrerão eleições na cidade de Porto Alegre? A eleição de 1988 poderá
aumentar, inclusive, o número de partidos. Proponho que o Projeto de Resolução
tenha uma emenda aditiva estabelecendo, no art. 12, que a eleição da Mesa se
verifique por votação secreta, sendo imperioso o preenchimento dos seis cargos
por representantes de partidos distintos. Primeira proposta: que cada cargo
seja preenchido por um vereador de cada partido, seis representantes de
partidos distintos. Segunda proposta: seria a presença na chapa para votação da
metade mais um do número de partidos existentes. Ou seja, Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, hoje o exemplo prático seria com oito partidos. Metade mais um
seriam cinco partidos presentes na Mesa. Como são seis cargos, a fração do
sexto ensejaria uma segunda participação e, daí sim, o critério da
proporcionalidade para a bancada de maior número de Vereadores. Hoje, no caso,
para dar um exemplo prático, se a Presidência fosse do PDT ou outro cargo do
PDT, o PDT, como a maior bancada nesta Casa, teria direito à segunda vaga
porque os cinco partidos estariam representados na Mesa, a sexta vaga estaria
sobrando e a segunda vaga seria para a bancada majoritária.
O Sr. Flávio Coulon: V.Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Vereador, ouço com atenção a sua manifestação. Faz
apenas uma semana que estou nesta Casa e esta é a quarta sugestão para mudança
do Regimento Interno, Lei Orgânica e etc. Eu me nego a estudar, a votar, a
considerar qualquer medida isolada a respeito deste assunto. Vamos aproveitar o
mês de julho, por exemplo, e vamos modificar isso tudo de uma vez. Todos têm
plena consciência que a Casa não está funcionando tão bem quanto deveria
funcionar. Temos que fazer projetos globais. Mudar pequenas alíneas,
parágrafos, artigos não vai resolver o problema. Então, eu conclamo o ilustre
Vereador a se juntar àqueles que pensam que precisa haver uma mudança global
nestes diplomas legais.
O SR. WILSON SANTOS: Eu acolho o seu aparte e
digo que é um aparte oportuno, inteligente. Veja que eu, ao levantar este tema,
tenho a intenção de assinar um Projeto de Resolução com mais 10 Vereadores para
que se cumpra o previsto no Regimento. Mas nada impede - acho até uma sugestão
válida - que se encaminhe esta sugestão para que nós, num grupo de trabalho,
possamos estudar as medidas conjuntas e mudanças no Regimento Interno. Mas faço
aqui soar a minha voz para que venhamos a amadurecer a democracia. Há pouco eu
ouvi a Vera. Gladis Mantelli, e eu concordo, que esta Casa é a célula-mater da
política, da democracia em Porto Alegre. Ora, sendo a célula-mater da política
e da democracia em Porto Alegre, nós temos que praticar esta democracia já na
direção desta Casa, ou seja, na Mesa, com a presença pluripartidária. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PT. Ver.
Antonio Hohlfeldt.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
coisas estranhas estão acontecendo no Atelier Livre de Porto Alegre, eu pediria
a atenção especial dos Vereadores Rafael Santos e Frederico Barbosa, que já
foram titulares da SMEC, porque esses Vereadores sabem que, embora existindo há
mais de 20 anos - e já comemoramos os 20 anos nesta Casa no ano passado -, o
Atelier Livre até hoje não existe formalmente, oficialmente, dentro da
estrutura da SMEC. Mas, de qualquer maneira, se tornou uma instituição
referencial de Porto Alegre, pois pelo Atelier Livre passaram alguns dos
grandes artistas plásticos desta Cidade, hoje com nome nacional, e no Atelier
Livre lecionam e trabalham alguns dos grandes artistas plásticos deste Estado,
tais como Danúbio Gonçalves, Paulo Porcella e tantos outros. O Atelier, nos
últimos anos, teve duas importantes vitórias. A primeira delas acho que foi na
administração do Ver. Rafael Santos: foi a eleição direta do diretor ou
responsável do Atelier Livre, conquista que a titular da SMEC imediatamente
cassou ao iniciar a gestão do Prefeito Alceu Collares, indicando uma
responsável para o Atelier, que foi a Profa. Ângela, que, aliás, se houve muito
bem enquanto diretora, mas que não foi uma diretora eleita, foi um nome imposto
ao Atelier Livre. Foi bem aceita posteriormente porque desempenhou muito bem a
função, mas foi imposta, de qualquer maneira. Agora, Srs. Vereadores, a titular
da SMEC abate o segundo golpe sobre o Atelier Livre. Na segunda-feira,
interveio diretamente na Associação de Amigos do Atelier Livre: cancelou o edital
de eleição da Diretoria do Atelier, contraditando, de maneira ilegal, os
estatutos da entidade, que é uma entidade absolutamente autônoma. Impôs uma
lista de candidatos da sua preferência e vai fazer a formalização deste fato na
tarde de amanhã, com uma convocação extraordinária dos associados desta
entidade, que sustenta, em última análise, o Atelier Livre. Eu gostaria de
chamar a atenção dos Senhores, ao fazer a denúncia, que estou encaminhando,
para votação amanhã, um Requerimento de convocação da Sra. Secretária Municipal
de Educação e Cultura, Profa. Neuza Canabarro, porque entendo que Profa. Neuza
está pensando muito curto. Ela está pensando em um ano e meio em que talvez
queira, em nome da SMEC, utilizar o dinheiro da Associação. E vejam bem: eu não
estou dizendo, em nenhum momento, que a Profa. Neuza vai desviar dinheiro em
proveito próprio, ou coisas deste tipo, mas ela vai voltar a uma situação que
eu não posso aceitar, se eu pensar em largo prazo a história do Atelier Livre,
que é tirar a autonomia da Associação de Amigos do Atelier Livre, cujas verbas,
que nascem das matrículas dos alunos, têm propiciado a instrumentalização do
Atelier, a compra dos fornos, das prensas, do equipamento de vídeo para
utilização nos cursos do Atelier, promoções como a do ano passado, comemorativa
aos 20 anos, e por aí afora. Talvez, no afã de controlar politicamente o
Atelier Livre de Porto Alegre, a Profa. Neuza Canabarro esteja cometendo o
pecado mortal de fazer com que o Atelier volte atrás nos níveis de dependência
da Secretaria. E me parece que isto não vai prejudicar, em si, o Atelier de
agora, porque passa a Secretária e se pode recuperar esta autonomia daqui a um
ano e meio. Mas prejudica, na verdade, a imagem da instituição do Atelier
Livre. E o pior: no relato que eu recebi, de alunos e professores da
instituição, o clima de medo e de pressão que se instalou dentro do Centro
Municipal de Cultura, envolvendo inclusive o Diretor da Divisão de Cultura,
Prof. Igor Moreira - de quem, aliás, tínhamos uma imagem bem mais positiva anos
atrás -, realmente é lastimável. Hoje, professores do Atelier Livre calam com
medo de perderem seus cargos e serem dispensados do seu trabalho. Isso, me
parece, faz muito mal em qualquer instituição, mas, sobretudo, numa instituição
da tradição e nível do Atelier Livre de Porto Alegre.
Ao fazer esta denúncia aos Srs. Vereadores, antecipo que amanhã
apresento o Requerimento, que já deixo com a Mesa, para que convoquemos a Sra.
Secretária de Educação e Cultura para que ela explique o que se está
pretendendo tirar e fazer do Atelier Livre da Prefeitura Municipal. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PMDB. Ver.
Clóvis Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. Todos sabemos que as ciosas não vão bem. Não vão bem para o
Prefeito Collares, não vão bem para o Governador Simon, empossado há 30 dias,
não vão bem para o Presidente da República, José Sarney, e nem poderia ser
diferente. Ora, uma herança que recebemos ninguém gostaria, de sã consciência,
de receber. Uma herança de muitos milhões de dólares com juros e correção
monetária, com conta em risco das grandes potências internacionais, uma dívida
interna onde cada prefeitura e estado deve uma conta para cada santo. É uma
situação difícil, é uma situação dolorosa. Este é o aspecto conjuntural, mas,
do ponto de vista estrutural, ninguém pode negar uma realidade: vivemos onde o
magistério faz greve e ocupa delegacias de ensino, como hoje à tarde, e não há
pancadarias, não há violência, mas se dá ao magistério, se dá ao funcionalismo
público do Estado todo o direito de reivindicar, o seu direito mais legítimo de
reivindicar. Negar que o Governo do Estado tem dado todo esse direito seria uma
hipocrisia. Realmente, tem sido condescendente, tem sido um verdadeiro
democrata o Governador Pedro Simon. Tem procurado ouvir. Encontrou um Estado
falido, encontrou um funcionalismo, que não é a causa maior, e um Estado
devendo para cada rio-grandense uma conta. Nós estamos procurando, e eu tenho
certeza que o Governador Pedro Simon também, uma saída para esse momento. Do
PDT, do PDT eu aceito a crítica. Acho que os companheiros do PDT viveram
momentos difíceis neste período da longa noite da ditadura. Mas aqueles que
estavam ontem na direção da coisa pública, Germano Bonow e não sei qual é outro
aí, CRT, CEEE, que acabaram com a CRT, que acabaram com CEEE, que bagunçaram
com a Secretaria da Educação e a Secretaria da Saúde, são esses que vão cobrar?
Mas com que moral vão cobrar? Ora, me perdoem os bravos companheiros do PFL,
até parece brincadeira! Quem vê o Dep. Germano Bonow fazer um discurso imagina
que é sério! E até pode entender como sério. Eles estavam ontem empregando
gente até fora do prazo legal, transformando departamentos, formando órgãos estaduais
em cabides de emprego. A Fundasul, a Metroplan, todos os órgãos do Governo do
Estado em cabide de emprego para os seus cabos eleitorais. Então, quando o
Deputado Porfírio Peixoto levanta a sua voz e cobra do Sr. Pedro Simon, eu
respeito. Este esteve conosco quando a ditadura imperava neste País. Mas,
Vereador, meu irmão fraterno Raul Casa, como pode vir para a tribuna dizer:
“Porque nós queremos os direitos dos trabalhadores”. Quem? Este que zelou o
direito dos trabalhadores é um lodo da ditadura que se instalou neste País.
Pagava o custa do povo que hoje está sem escola.
(Apartes paralelos.)
Quero dizer mais, Sra. Presidente: V.Exa. é muito gentil e muito
querida para nós. Agora, o PFL que não venha mais fazer discurso de reformista,
de que são os donos da verdade. Vão para a Assembléia e fazem os discursos mais
inflamados, e até parece que é sério. Pagava com a dívida da CRT, com a dívida
da CEEE, com a dívida de todos os órgãos estaduais. Pagava com a dívida do
Estado do Rio Grande do Sul, pagava e pegou o Estado falido. Destes não dá nem
para se falar. Politicamente, não têm moral, não podem cobrar.
(Apartes paralelos.)
Sra. Presidente, pagava, sim - é verdade. Só que o rombo que deixaram
neste Governo ninguém mais emenda, não tem mais conserto. O Dr. Bonow e aquele
rapaz da CRT que fez uma votação muito bonita, Dr. Atos, estão brincando. Eu
encerro. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE (Teresinha
Irigaray):
Com a palavra o Ver. Frederico Barbosa.
O SR. FREDERICO BARBOSA: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores. Tenho evitado, após ter sido, no ano passado, o Vereador que
compareceu mais de 150 vezes à tribuna para criticar o Governo Collares, me
conter nesses primeiros, longos e penosos dias do governo eleito pelo povo do
Rio Grande do Sul. Durante longo tempo acreditei que o governo eleito para a
cidade de Porto Alegre ia levar seis meses para conseguir mostrar ao seu
eleitorado tudo aquilo que nós já sabíamos que não iria fazer. Mas o Governo do
Estado já conseguiu, a bem da verdade, apresentar um projeto em 60 dias e ter,
certamente, conseguido os melhores e maiores apoiamentos dos últimos tempos
para um governo do Estado como o do Rio Grande do Sul. Senão, vejamos: manchete
de primeira página aos 30 dias: “Os Deputados do PMDB atravessam a rua e
hipotecam solidariedade ao Governo Pedro Simon”. Aos 30 e poucos dias, manchete
de jornal: “O partido reunido vai ao Governador e hipoteca todo o seu apoio
pelo bem do Rio Grande do Sul”. E, finalmente, o secretariado estadual é manchete
jornalística porque ingressou no Palácio Piratini, em conjunto, sem faltar
ninguém, para dar apoio ao Governador do Estado que os escolheu. Mas, Ver.
Clóvis Brum, o Secretariado de que V.Exa. falou nunca precisou caminhar até o
Palácio para hipotecar solidariedade ao Governador Jair Soares, até porque o
dia que se conseguir a solidariedade apenas de Casa nós estamos com o núcleo
muito reduzido. Mas, meus amigos, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, o Governo
do Estado é isto que está aí e, certamente, não podemos esperar absolutamente
nada mais do que isto que está aí ou ali instalado no Palácio Piratini.
Sra. Presidente, peço a V.Exa. que desconte do meu tempo os apartes
anti-regimentais do Ver. Clóvis Brum.
Veja bem: pelo que sei, do meu pouco tempo de vida pública, é o
primeiro Governador que faz absoluta questão de colocar em manchete um estado
como destruído e como exemplo de destruição neste País, manchete que se torna
nacional e internacional eis que qualquer programa de rádio e televisão traz o
Rio Grande do Sul como exemplo de destruição nacional levado a público
primeiramente pelo Governador do Estado do Rio Grande do Sul, que faz questão
de dizer, ao contrário do que se espera, que seria um trabalho efetivo e diário
no sentido de mostrar os defeitos, isto sim, que encontrou, se é que os
encontrou, mas mostrar, também, como resolvê-los. E a pergunta que deixo no
final é: o que estará pensando, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, o Estado do
Rio Grande do Sul de um Secretário da Educação que prega a paralisação e
suspensão do ano escolar por 60 dias, certamente por incapacidade de resolver
os problemas? Ou não sabia de absolutamente nada que iria enfrentar? A demissão
anunciada de 20 mil...
Se a Mesa permitisse, eis que o Regimento não permite, teria o maior
prazer em dialogar com V.Exa., Ver. Clóvis Brum.
Certamente, o Ver. Flávio Coulon é um dos que prega a interrupção do
ano escolar por 60 dias, pela incapacidade de resolver os problemas deste
Estado na área da educação...
(Aparte anti-regimental do Ver. Clóvis Brum.)
O Ver. Flávio Coulon tem mais ou menos três anos para nos responder,
mas certamente há de nos justificar, isso sim, o pedido de paralisação, como se
os pais, as mães, toda a população do Rio Grande do Sul que tem filhos nas
escolas estaduais, pudessem estar tranqüilos quando um Secretário vem a público
dizer que vai sugerir a suspensão do ano escolar. Certamente, por incapacidade
de resolver o problema com as escolas funcionando, e mais a demissão de 20 ou
30 mil professores.
A SRA. PRESIDENTE: Vereador, o tempo de V.Exa.
está esgotado.
O SR. FREDERICO BARBOSA: O Ver. Flávio Coulon é
conhecido nas suas investidas no sentido de dizer o que quer e não quer ouvir o
que os outros dizem.
Eu concluo, agradecendo a compreensão da Mesa. Certamente, o passar do
tempo compensa, um pouco, dos gritos dados pelo Ver. Clóvis Brum. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar,
declaro encerrados os trabalhos e convido os Srs. Vereadores para a Sessão Solene
a seguir.
Estão
levantados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 15h50min.)
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